domingo, 24 de maio de 2009

Mercado & Tendências

O abalo da economia mundial e o negócio do livro

A crise que os Estados Unidos atravessa começou com inúmeras dívidas não pagas no mercado imobiliário e desenrolou em uma crise no mercado de ações, no câmbio e conseqüentemente no crédito. A crise espalhou-se pelo mundo e no Brasil. A restrição de crédito passou a ser a maior preocupação dos economistas e empresários.
Márcia Cristina Bastos Garcia, gerente financeira da Editora Vozes diz que a restrição de crédito tem mostrado impacto nos negócios.

O mercado editorial sofre com a crise, segundo Márcia Cristina Bastos Garcia, gerente financeira da editora Vozes, Petrópolis, Rio de Janeiro. “A restrição de crédito tem realmente mostrado impacto nos negócios. Observamos nosso custo financeiro subir na casa de 20% além de verificarmos o enxugamento das linhas de crédito. Se até recentemente tínhamos livre trânsito no mercado bancário, tendo opção de escolher com qual instituição financeira, hoje já sentimos a falta de crédito. Dois dos maiores bancos do país já nos informaram que não estão liberando crédito e não possuem linha para nos ofertar. Os demais vivem um dia de cada vez, evitam negociar taxa de juros e não se comprometem em concessões de crédito por prazo superior a 6 meses. Em julho negociamos a importação de um equipamento de R$ 2.5 milhões que está previsto para embarcar no próximo mês para o Brasil. Certamente a crise também impactará nesta operação, seja pela elevação do euro, seja pela elevação da libor (taxa de juros europeu), seja pela redução do prazo de financiamento. Vemos também que a restrição de crédito pode ir além. Também temos clientes pessoas jurídicas, de porte pequeno e médio, que normalmente utilizam - ou utilizavam - linhas de desconto de títulos e capital de giro para movimentar o dia-a-dia de suas empresas, com o aumento das taxas e a escassez na oferta dessas linhas, tememos que estes clientes reduzam seu volume de compras, ou ainda, se tornem inadimplentes”.
Reinaldo Cafeo, economista, conselheiro do Conselho Regional de Economia, analisa o momento em que o Brasil atravessa. “Na prática já observamos uma crise de confiança. O governo brasileiro e sua equipe econômica não transmitiram aos agentes econômicos a real dimensão da crise internacional, taxando simplesmente como uma "marolinha" o que na prática não se confirmou. Duas importantes variáveis conduziam o consumo das famílias: renda e consumo. Categorias importantes conseguiram ao longo de 2008, reposição salarial acima da inflação. Na outra ponta, o mercado estava líquido, com financiamentos a perder de vista. O mercado, portanto, tirava proveito do aquecimento de demanda. Com a crise e o pessimismo dos agentes econômicos, ocorreu uma reversão do cenário. Algumas pessoas mesmo ainda não sendo afetadas diretamente pela crise, passaram a ter um comportamento mais cauteloso, adiando o consumo de bens que não lhe demonstram ser essenciais. Outras pessoas já sentiram isso diretamente, notadamente em setores que dependem do crédito e do comércio exterior”, diz.
Em relação ao mercado editorial, Cafeo acredita que a precaução que o brasileiro está tendo em relação aos gastos, poderá contribuir com queda nas vendas. “No setor específico do livro, dado o hábito dos brasileiros de não incorporarem a leitura como rotina, o indicativo é que esse segmento poderá encolher. Como o valor médio do livro não se assemelha a de um eletro-eletrônico, por exemplo, o setor será menos afetado pelo crédito, mas mais afetado pela cautela do consumidor”. Reinaldo Cafeo, economista do Conselho Regional de Economia, faz uma analise do período em que o Brasil atravessa.


O economista acredita em soluções e confirma que o ano que vem será um ano de desaceleração que atingirá todos os setores, inclusive o mercado editorial. “Mas avalio que será desaceleração e não recessão (crescimento negativo do PIB), portanto, será o momento das promoções, da criatividade, das parcerias entre empresários e funcionários e fundamentalmente estratégia para operar em nível de atividade menor, mas sem perder o horizonte de que mais cedo ou mais tarde a crise passa e quem fez a lição de casa nesse momento, estará mais fortalecido”.
Já o professor Doutor em Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Fábio Sá Earp, não acredita que a crise mundial afete o mercado editorial no Brasil. “Por esse lado do crédito não irá afetar, pois não existe e nem existirá falta de crédito no Brasil. As editoras praticamente não utilizam crédito em função da alta taxa de juros”.
O que pode ocorrer é uma queda de exportações devido à recessão internacional, com isso diminuindo a renda da população e com isso a compra de livros”.

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