sábado, 23 de maio de 2009

Discografia


A MÚSICA E O CHARME CARIOCA DE
OLÍVIA BYINGTON

Renata Bianco

...Da janela vê-se o Corcovado e o Redentor que lindo...
Toma-se emprestado do poeta a frase para tentar dar imagem de onde Olívia Byington tira tanta inspiração.
Dona de uma belíssima voz, a cantora e compositora, toca seu violão, compõe suas músicas, tendo como cenário a Lagoa Rodrigo de Freitas, o Corcovado, a orla carioca, ou melhor, a vista inteira do Rio de Janeiro.
Certa vez, ela conta que seu amigo, Juarez Barros, ribeirão pretano, encantou-se com sua voz e a convidou para participar do show, de Emmanuel Donzella que estava no Brasil. O amigo organizou o encontro na casa de Olívia. O ensaio estava todo preparado na varanda da casa, que fica no alto da Gávea.
Assim que o francês pousou no Rio de Janeiro, foi para casa da cantora. “Esse encontro tornou-se histórico, porque assim que ele chegou na minha casa, ele tinha acabado de chegar de Paris. Eu tinha arrumado todo ensaio do lado de fora, com aquela vista maravilhosa. Começamos a tocar e ele começou a chorar. Ficou muito emocionado, às lágrimas, até chegar uma hora que ele parou e disse: Deixe virar-me, eu não estou agüentando olhar esta vista. E aí passou o resto do ensaio de costas”, diverte-se.
Esse encontrou resultou em um convite para cantar nos palcos de Paris. Seu atual show, intitulado de “A Vida é Perto”, mesclado com falas e músicas, que conta a trajetória e histórias de sua vida, fez sucesso na França. Não é para menos. A cantora organizou todo texto além das músicas e adaptou-os para o francês. “Eu realmente me dei o trabalho de fazer tudo em francês e ficou muito bacana. Os textos desse show são muito tocantes. As pessoas riem muito e choram muito. Ele tem os dois lados da emoção, fala da minha vida. O show é um monólogo, uma mistura de artes cênicas com música. Escrevi e dirigi. Ele é todo roteirizado, escrito”, explica a cantora contando que esse espetáculo também já viajou para Portugal e esteve cinco meses em cartaz no Teatro Laura Alvim, no Rio de Janeiro. “Ele entrou pra ficar em cartaz um mês e acabou se estendendo para cinco. Ou seja, teve uma resposta muito bacana. Agora, ele tornou-se um DVD e vai ser lançado em breve pela Biscoito Fino”, orgulha-se.
Otimista, acredita que no Brasil dá-se valor sim à música. “A prova é que sou uma cantora, fora da mídia. Minha música não toca na rádio, e estou fazendo esse show, com essa carreira espetacular. Meu trabalho não é um fenômeno de mídia, então preciso escolher o lugar onde fazer o show, que é para pessoas que vai pelo cult, que me conhece, entende de música, me acompanha, e quando chego sempre aparece alguém com um disco antigo, sabendo as coisas todas”.
Olívia Byington já possui trinta anos de carreira, que começou a decolar, segundo ela, quando tinha 19 anos. “Comecei a carreira cantando rock, meu primeiro conjunto chamava-se “Antena Coletiva” com o maestro e violoncelista Jaques Morelenbaum que hoje em dia trabalha com Caetano. Trabalhei com ele em um tempo que existiam grupos imensos de rock, no final dos anos 70, que era um rock progressivo. Diferente de um rock mais tradicional, esse era um rock com muita orquestra, muito elaborado, que era um caminho para uma música mais sofisticada. Eu costumava cantar Frank Zappa, The Who, Gentle Giant, David Bowie. Uma coisa mesmo daquela época. Eu compunha e nós fazíamos as nossas músicas também. Até eu conhecer esse grupo chamado A Barca do Sol, um dos grupos mais emblemáticos do rock brasileiro”, relembra.
Foi então que estudando violão clássico, conheceu seu ídolo, Egberto Gismonti que acabou participando de seu primeiro disco, “Corra o Risco” em 1978. “Conheci o Egberto e começamos a tocar. Li suas partituras, comecei a cantar com ele, e o resultado foi a sua participação no meu primeiro disco”.
Além de Egberto Gismont, Olívia já se apresentou ao lado de grandes nomes como Chico Buarque, Turíbio Santos, Radamés Gnattali, Paulo Moura e Tom Jobim. “Com Tom Jobim foi há muitos anos quando ele ainda não estava fazendo muitos shows no Brasil. Ele recebeu o prêmio Shell e aí ele me convidou. Isso foi em 1982. Foi à volta do Tom para o Brasil. Ele ainda estava muito tímido de fazer shows. Posso dizer que tive um caminho, não fácil, mas de sorte. Sempre ao lado dos meus grandes ídolos, mas nunca fui por caminho muito comercial. Valorizei muito minha vida pessoal, minha família, meus filhos, e hoje tenho 10 discos”, explica-se.
Falando de influências e gostos musicais, Olívia não esconde sua preferência pela canadense Joni Mitchell, que saiu da soul music para o jazz. “Ela é muito complexa. A vida inteira eu ouvi essa mulher, e vejo que ela vai se transformando, fazendo um trabalho cada vez mais sofisticado, cada vez mais dentro do mundo do jazz”, encanta-se. Quando o assunto é rock, uma das cantoras que a impressionou, e muito, foi Cássia Eller.
“Eu gosto mais do rock quando ele é impactante. Hoje em dia as cantoras estão muito macias, miando muito pro meu gosto. Gosto mais quando as mulheres são mais impositivas, cantam com mais vontade”, enfatiza.
Em meio à secadores e esmaltes, onde a entrevista foi realizada, no charmoso salão do cabeleireiro Ricardo Perez em Ribeirão Preto, a conversa tornou-se descontraída e Olívia contou algumas de suas histórias. Uma delas arrancou gargalhadas de quem estava perto e inevitavelmente a ouviu. “Eu a acendo velas durante o show. Teve um dia que o técnico de som estava acenando lá atrás, e eu pensando. O que é que esse homem tem que ele está acenando feito louco lá de cima?! E logo eu que não gosto de interromper o show por causa de problemas técnicos! Fui disfarçando, sem entender o que estava acontecendo, de repente ele gritou; FOGOOOOO!!! Quando olhei pra trás, as velas tinham derramado do castiçal, tinha uma labareda imensa, quase se transformando num incêndio, aí tive uma presença de espírito. Tenho sempre um copo d’água ao lado do computador que faz parte do meu show. Peguei o copo, me levantei calmamente, e joguei a água, o fogo apagou e continuei”, diz sorrindo.
Mas antes do espetáculo ela confessa que essa calma toda não a acompanha minutos antes de entrar em cena. “Há sempre uma adrenalina antes de entrar no show, senão você não é um artista. Quando estou à beira de um encontro com o público, é feito um encontro amoroso, existe a expectativa, vai acontecer alguma coisa diferente na minha vida ali”, diz com olhar apaixonado de quem vive para música e para seu público.
Para ouvir o som de Olívia Byington clique aqui

Um comentário:

  1. Rê, que delícia de texto...eta ainda melhor, digna de uma Piauí. Parabéns !!
    Bjos

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